Como fazer terror no RPG? [Especial Halloween]




Estranho o que a falta de sono faz com as pessoas. Começa o dia das bruxas, altas madrugadas e eu sem conseguir dormir. Estava pensando na vida, nas coisas, nas criaturas, lembrando que [até que enfim] vão narrar pra mim e vou jogar 3d&t de verdade, quando eu olhei no relógio do meu note e vi que começou o dia 31 de outubro, nosso tão conhecido e comemorado Dia das Bruxas [õo – nem mereceu uma frase, foi um emoticon mesmo].

Não vou discutir o porquê o povo agora cismou em comemorar este feriado americano, nem porque é moda os blogs de RPG fazerem especiais de Halloween, mas, como eu quero audiência e sou um fã inveterado de histórias de terror, decidi fazer o meu ESPECIAL DO DIA DAS BRUXAS.

Já que o assunto é esse, pensei no que escrever e a pergunta veio como meu tema: Como fazer terror no RPG?

Está aí uma coisa realmente difícil. Narrar já é complicado, deixar claro o cenário, as características dos NPCs, detalhes, nuances, pequenas motivações, coisas que somente a sensibilidade apurada poderia capturar na totalidade da intenção do mestre. Causar o terror, mudar o humor do jogador é algo muito difícil.

Muitos jogadores já sentam em uma mesa de RPG vestidos com o uniforme do fantástico, preparados para a ficção e totalmente apáticos para a interpretação. O Mestre que deseja buscar e causar o terror deverá ter esforços dobrados nesta quest pessoal.

1º - Seja misterioso
O mistério é a alma da maioria das histórias de terror psicológico. O ser humano instintivamente teme o desconhecido, o escuro, o oculto, tudo que ele não pode controlar ou qualquer coisa que possa provocar ansiedade. Deixe os jogadores sem saber o que esperar, crie um ambiente totalmente diferente do que eles estavam acostumados e viagem na maionese pra valer. Um fantasma, por exemplo, pode fornecer tanto enredo para uma história que uma campanha toda poderia se formar de um encontro com uma criatura dessas. O jogador não precisa saber que monstro é logo no início do encontro. Forma, efeito, fala, tudo isso pode ser mudado ou apresentado aos poucos. Inspire-se em histórias de Stephen King, Edgar Allan Poe, ou outros gênios do terror. Use elementos de Cthulhu, copie algum filme, seriado e abuse do clima de suspense. Histórias simples geralmente são bem eficientes para assustar.

2º - Não há escapatória

O terror é simples, mesmo o mocinho sobrevivendo no final, o terror persegue os jogadores e atinge um ponto muito sensível: a emoção. A idéia de não ser possível escapar sem resolver o problema cria uma tensão extra que o jogador vai absorver através de seu personagem. Perseguições implacáveis e a ineficiência nas tentativas de se esconder vão deixar seus jogadores no mínimo preocupados. Com o clima certo, o medo surgirá aos poucos.

3º - Escolha bem a criatura
Eu sou fã de zumbis... Para mim, se tem zumbi já existe 50% de chance para a história ser um sucesso. Mas existem muitas criaturas sobrenaturais que podem dar um bom terror: zumbis, lobisomens, vampiros, fantasmas [e suas variações], esqueletos, aparições, pesadelos, monstros monstruosos do mal. De qualquer forma, a criatura deverá combinar com o clima de suspense e a perseguição que irá conduzir a aventura.

4º - Trabalhe com as emoções
Um filme bacana é aquele que consegue alterar seu estado. Se você assiste um drama, ele tende a deixar você emocionado, uma comédia deixa você alegre e um terror deixa você assustado. Mas, como assustar um jogador? A resposta é: não sei. Cada um tem um ponto fraco... Às vezes, o psicológico deixa o jogador com medo, às vezes é a visualização da cena, ou o clima do desconhecido, medo da morte, medo de escuro, trauma de infância. Descubra ou tente descobrir do que o jogador tem medo e use isso na campanha [uahahahahah! Risadas malévolas do mestre malvado], funciona. Certa feita há muito tempo, eu narrei minha única história de lobisomem. Um personagem era um guarda florestal e, no alto da aventura, dessas rápidas, ele e um bando de NPCs guardas estavam perseguindo uma criatura na mata, bateram o carro e tiveram que ir a pé. Eu juro, que quando eu narrei os companheiros guardas sumindo e [exagerando na violência da cena] disse que ele viu um lobo, bípede, abrir o corpo de um dos guardas e comer seu coração [falei que o negócio era violento], eu ouvi a respiração do jogador acelerada, os olhos estavam arregalados e os outros jogadores que assistiam a vez do companheiro pararam para ver a cara de assustado dele. Eu nunca tinha visto algo assim.

5º - Seja detalhista
Quanto mais enfoque emocional mais detalhes a narrativa deve possuir. Em RPGs normais, o mestre geralmente deixa a coisa meio no ar, jogando para o jogador a responsabilidade de montar o cenário. Nada é explicado completamente, a taverna sempre tem mesas, cadeiras, algumas pessoas, um bardo, etc., etc., mas não se comenta sobre as garrafas, bandejas, velas. Para o terror, cada coisinha é importante, cada pequeno detalhe, o ranger da madeira do piso, a vela pela metade escorrendo cera, a mesa empoeirada, o candeeiro quebrado, o papiro molhado, o som do vento, o som da porta, o cachorro latindo ao longe, ou seja, tudo. O excesso de informação confunde a cabeça do jogador, qualquer detalhe pode ser ameaçador e ele não saberá o que é, passará a se preocupar com coisas que não oferecem nenhum perigo. Isso pode até parecer trapaça, mas é algo útil que vai suprir a falta de argumentos áudio-visuais. Os detalhes servem para enriquecer a imaginação do jogador, use-a como sua arma secreta.

6º - Último susto
Prepare bem o desfecho da história, mas, toda história de terror tem um último susto, o monstro sempre volta depois de sua derrota aparente. Não tenha vergonha na cara [rs], traga de volta sua criatura mesmo que seja só para aterrorizar seu jogador.




Enfim, aproveite o Halloween, seja responsável e planeje bastantes sustos para seus jogadores.

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Comentários

  1. Valeu estava precisando de umas dicas pra mestrar para uma galera iniciante e nunca mestrei algo em terror! Obrigado pelas dicas..

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