Crônica - Vão-se os dedos - Parte 1


Caia neve branca sobre o jardim, mostrando que o ano correu rápido demais para se notar de maneira adequada. O bom ano de 1901 voou veloz abrindo o novo século e ajudando a superar o ano anterior, o terrível ano anterior, mas nada se podia fazer agora, a não ser contemplar essa bela imagem de fim de ano pela janela do laboratório. Nathicana limpava os quadros de vidro embaçado das aberturas de janela e se lembrava de coisas da juventude, marcando o belo rosto que possuía com uma bela silhueta nostálgica, um sorriso que logo foi quebrado. A médica fitou sua mão, que limpava o vidro para ver melhor seu quintal, e viu a marca de queimadura feita pelo anel. Três anos se passaram e a marca ainda dói.

Nath, como os amigos a chamavam, baixa as mãos e esfrega suas palmas, buscando um pouco mais de calor nessa manhã fria de véspera de ano novo, e se lembra de seu padrasto, ali, sentado na cadeira com jornal na mão, um bom chá, seu cachimbo e muito silêncio para ler. Antes, o que era a biblioteca da casa, hoje deu lugar a um laboratório improvisado de medicina, e ali, perto das vidrarias, ficava a escrivaninha do padrasto, onde Nath se escondia, em vão, para aproveitar a calma do lugar e olhar o jardim em manhãs de primavera. "Ele sempre soube que eu estava aqui, sempre soube, por isso fez este laboratório antes de partir para longe de Scarborough", pensava.

As horas passam e o chá esfria.

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Narrativa em Guardião PbEM

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