[CAP] Capítulo UM - O Lorde do Casebre (parte 7)

Zurk ficou sem ação por alguns segundos, pensava conflituoso, Quem será este sujeito? O que ele sabe sobre Regis? Será que poderia nos trazer alguma informação nova? O que devo fazer agora? Retomando o controle de seu raciocínio, se dirigiu firme ao senhor, Nobre senhor, dos seus assuntos com o rapaz eu desconheço, aliás, sobre ele nada sabemos, pois lhe falta memória. O velho ouviu atento e não ousou interromper, permitindo que o feiticeiro continuasse, Viemos de Hajasti e estamos tentando descobrir quem é e de onde é o rapaz, o encontrei abandonado na neve, após um grave acidente com sua carruagem, Esta cidade é a única coisa que é lembrada por ele, era o destino de sua jornada.

Lorde Dimas se calou, como se em dúvida quanto à veracidade das palavras do feiticeiro, e voltou a colocar o chapéu enquanto franzia atesta e enraivecia o olhar. Zurk sabia que o velho iria retrucar algo, então rapidamente se pronunciou, Com todo respeito, distinto cavalheiro, não poderei permitir que nenhuma batalha se trave antes que a história deste garoto seja revelada, Talvez o senhor mesmo possa trazer as informações que tanto procuramos.
Em meio do silêncio constrangedor que surgiu no ambiente tenso e gelado, Regis repetiu as palavras citadas no prédio da milícia, "não sem a ordem do Sacerdote Gradios". Zurk olhou para o moço e Lorde Dimas sorriu de maneira cínica, Vejo que ele está recobrando sua memória. Regis encarou o velho, Se o senhor sabe de algo sobre mim, diga-me e eu o enfrentarei, e continuou encarando-o, esperando uma resposta, neste momento, Zurk aguardou a resposta do Lorde.

O senhor Dimas de Torres soltou sua bengala e lentamente começou a retirar suas luvas das mãos, desabotoando deus punhos e puxando os panos pelos dedos enquanto falava de maneira calma, Meu caro Regis, se é seu desejo, creio que posso lhe falar algo sim, você é discípulo doSacerdote Gradios, um mestre já idoso, mas muito respeitado em seu meio, porém, o bondoso sacerdote morreu há cerca de um ano, Sua tutelaestá sendo disputada por alguns mestres, mas eu gostaria de chegar antes deles, então, estou o desafiando para conseguir este título.

Zurk olhou com estranheza para o Lorde, Mas precisa desafiá-lo para se tornar seu mestre? Lorde Dimas guardou as luvas e se dirigiu ao feiticeiro, Infelizmente eu não tenho tempo para lhe explicar meu caro amigo, posso somente adiantar que para conseguir um discípulo tenho que passar pela prova de vencer outro discípulo, somente assim me torno um mestre, Já disse muito sobre você jovem Regis, então se prepare. O velho começou a andar para trás, lentamente até se afastar alguns metros dos dois viajantes curiosos, abaixou-se de joelho na neve e iniciou um desenho circular em torno de si enquanto balbuciava palavras incompreensíveis em tom bastante baixo, como sussurros. Regis olhava Zurk sem saber o que fazer.

Lorde Dimas se levanta e se coloca em uma estranha posição de combate, com as pernas pouco abertas, joelhos levemente arqueados e os braçosesticados para baixo, com as mãos abertas, seu semblante está diferente, seu olhar concentrado. Em volta de si, um circulo desenhado na neve com vários escritos incompreensíveis pelo contraste branco do gelo. Pronto, Regis? O moço não sabe como reagir ao desafio, mas não recua cerrando os punhos, franzindo a testa e concentrando-se. Zurk observa e decide não interferir, pensa que Lorde Dimas deve possuir muito poder, mas ao mesmo tempo, se ele deseja ser mestre do rapaz, ele não seria capaz de infringir nenhum dano fatal contra seu possível pupilo, Boa sorte, filho!, diz a Regis e se afasta até uma posição segura onde possa observar mais tranquilamente. Enfim, seria possível testemunhar as habilidades do rapaz, Algo interessante em meses, pensa consigo o feiticeiro.

Regis parece esperar alguma ação de Dimas, que vendo a apreensão do rapaz, junta suas mãos entrelaçando os dedos, baixando seus olhos para a neve e iniciando uma seqüencia de palavras, sem muito som. Zurk tenta observar, mas é difícil ler os lábios do senhor, e se concentra para conseguir discernir as palavras, percebe então que os pronunciamentos feitos por Dimas eram feitos em outra língua e não demorou para que ele identificasse as pronúncias. "Netdo disitros masraciso itcilis iroldi mogcimide odomo ozedot ziti dangati...". Enquanto as palavras eram pronunciadas, Regis avançou em corrida em direção ao seu oponente desprotegido e desatencioso. Cerrou os punhos e preparou o golpe, mirando no rosto, planejou, calculou e desferiu seu ataque, sendo parado pelo ar, como se atingindo uma parede invisível. O garoto recua dois passos e balança a mão com expressão de dor. Dimas termina as palavras e Zurk consegue compreender o final da frase, traduzindo o sibilar do Lorde: "pele e o aço, completamente." O velho levanta o olhar e cospe, como uma serpente do deserto, um líquido grosso e volumoso, que atinge o jovem, próximo ao ombro direito.

Regis grita de dor e sua vestimenta parece ser corroída pelo líquido, abrindo-se ao frio e levantando uma fumaça com cheiro estranho, de queimado. Dimas continua parado e calmamente diz, enquanto o rapaz tenta conter a dor com espasmos desesperados, Cubra a ferida com neve, e observa o rapaz seguir suas orientações. O moço mistura sua expressão de medo com surpresa, Que bruxaria é essa? A pergunta também chama a atenção de Zurk, ele conhece magias semelhantes, mas nenhuma era conjurada tão demoradamente, muito menos executada de maneira tão singular, Um cuspe? O feiticeiro fica curioso com o ritual mágico desenvolvido, por quê Regis se feriu ao atacar o velho, mesmo não o atingindo, e continua observando, esperando que o rapaz revide.

Lorde Dimas volta à posição original e novamente começa a pronunciar palavras, sem emitir sons audíveis. A movimentação labial era rápida e Zurk tinha dificuldade de traduzir, Keugoes bolres sojim "fortes e que meus" alamages zotossim legone "infalível" oftae. Ao final da pronúncia, Regis que ainda sofria com o efeito do primeiro ataque, se abaixa e pega a neve do chão, moldando uma esfera e atirando-a contra o Lorde. O moço e Zurk observam a bola de neve se desmanchar como se batesse em algo, mas nada havia fronte ao feiticeiro velho, que sorria ironicamente. O jovem imediatamente avança, partindo em investida contra seu oponente, mas a cada passo que dava o vento que vinha ao seu encontro se tornava mais forte e a neve castigava, dura e fria. Uma nevasca surgiu subitamente contra Regis e impediu seu avanço, forçando-o a parar, turvando suas vistas e atingindo-o com pequenos granizos. A dor do ferimento ainda o incomodava e sua mão cobre o aberto das roupas, as pernas fraquejam eZurk começa a concluir que, Afinal, ele não tinha habilidades.

As forças faltam às pernas do jovem e o vento vence jogando-o ao chão. Dimas descansa a postura e os ventos cessam, Desista Regis, e seu sofrimento acabará, não desejo feri-lo de verdade. Regis se contorce, o ferimento parece castigar a pele do jovem. Ele olha para Zurk como em sinal de súplica, obrigando o feiticeiro a intervir, Já chega homem, você já o derrotou. Dimas se vira para Zurk e diz que ainda não, o rapaz deve reconhecer a derrota, somente assim ele será realmente vencido, Mas você já acabou com suas forcas, ele não será capaz de revidar, e o Lorde reafirmou, Ele deve reconhecer ou estar totalmente sem condições de se defender para eu consumar minha vitória, Se ele não se entregar, serei forçado a deixá-lo em condição pior.

Enquanto os dois discutiam, Regis observou Dimas e estendeu sua mão. Nesse instante, a neve que servia como base para os símbolos desenhados pelo Lorde se derreteu, como se aquecida por fogo forte, molhando os pés do velho que se apercebendo do acontecido, se espantou e imediatamente iniciou novos pronunciamentos. Regis, mais uma vez, pegou um punho de neve e atirou em direção ao velho, impedindo sua conjuração. Enquanto o senhor se recuperava do golpe, o jovem avançou novamente e, desta vez, acertou o senhor em cheio no rosto com um murro de raiva. Lorde Dimas recuou um passo com a força do ataque e enquanto Regis se preparava para atingi-lo novamente, esticou seu braço e realizou uma magia arcana, conhecida por Zurk, A Teia. Pelos dedos do Lorde, infinitos fios cobriram o rosto do jovem valente e os deixaram sem visão e aos poucos, sem ar.

Mais uma vez, o jovem estava dominado. Tentava desesperadamente retirar os fios, enquanto o velho rodeava, Bem Regis, vou terminar com isso agora. Lorde Dimas juntou as mãos e iniciou uma nova magia arcana, conjurando algo, evocando às forças mágicas um objeto que se materializou em suas mãos, uma agulha de metal, com tamanho de um palmo. Dimas posicionou a agulha como se fosse um punhal e começou a andar rumo ao jovem caído.
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