[CAP] Capítulo UM - O Lorde do Casebre (parte 4)

Zurk se preparou e chamou seu hóspede que se levantou e mostrou não conseguir caminhar com naturalidade, observou então ao longe e se apoiou no cajado que estava sempre perto da porta, viu as luzes dos outros casebres e casas e uma luz mais intensa, a da taverna, que esta noite, como costumeiramente acontece em invernos rigorosos em noites mais tranqüilas, estará cheia, vendendo suas bebidas mais quentes e tocando suas músicas mais animadas.

O feiticeiro se pergunta se seria seguro andar com o rapaz, Ele está debilitado, Seria perigoso para ele ficar aqui, Seria perigoso para mim ele ficar aqui!, Zurk estranhava a situação, tudo era muito confuso e simplesmente aceitar um pensamento simples de "é simplesmente o acaso" se tornava inaceitável, pensava consigo mesmo e se cobrava quanto ao controle da situação, sempre planejava e articulava as situações para que tudo fosse conhecido, controlado e previsto por ele, Terá sido isso tudo uma simples coincidência? Ainda não consegui desvendar o atentado que sofri, e agora mais essa! O feiticeiro olha para Regis de soslaio e se pergunta, Será que meu agressor poderia estar por perto? De qualquer maneira, seu pai lhe dizia "o esperto corre em especulações, mas o sábio sabe como fazer o tempo lhe prover as respostas", então, escapa dos pensamentos que o intrigavam e encosta um pouco a porta, se virando para Regis, Acha que consegue andar rapaz?

Regis, mesmo demonstrando sinais de dor e dificuldades para apoiar os pés, afirma que sim, Zurk então pega o cobertor de peles, Use-o como capa, e entrega também quadros de couro que utiliza em remendos para que o moço enrole os pés. Agora você está vestido e calçado, vamos até a taverna.

O caminho é curto e demorado, o vento gelado faz arder os olhos e tremer as juntas. Com a neve alta, mesmo a iluminação quaseinexistente revela os vultos dos moradores se dirigindo à casa do velho Xerife, a taverna conhecida como Coice de Mula, outrora famosa por sua bebida forte e pela hospitalidade do velho taverneiro. Xerife era um homem velho, a beira de seus 60 anos, todos se perguntavam como consegue estar com tanta saúde. Foi casado, teve três filhas, mas morreram, as quatro, em um incêndio quando ele ainda era jovem,dizem que ele mesmo havia escapado por pouco. De acordo com os mais velhos, o taverneiro morava na cidade de Rura-jeh e havia sido escolhido para liderar uma pequena guarnição, onde conseguiu seu apelido, mas depois de um mês de serviço dedicado e de quatro prisões, foi vítima de vingança e isso lhe custou muito caro. Sem mais nada que o prende-se a Rura-jeh, abandonou a vida militar e vagou por varias cidades e vilas, acabando por se instalar em Hajastie abrindo o Coice de Mula, que persiste a verões e invernos há quase quarenta anos.

Quanto mais próximos, mais alto era o som das conversas, risadas e músicas que vinham do Coice de Mula até os ouvidos do feiticeiro e do rapaz. A porta estava encostada e a agitação esquentava o ar que saia pela porta aberta pelos dois, lá dentro, meia vila cantava, dançava,bebia e se divertia. Era uma maneira eficaz de espantar o frio severo que duraria mais alguns meses. Zurk pediu para que Regis se sentasse a uma mesa enquanto buscava alguns mantimentos, comida e bebida esaiu em direção ao balcão do velho Xerife. No caminho, observou as crianças correndo e brincando e algumas já reparando a presença do forasteiro e cumprimentou, por educação, algumas pessoas com quem estabelecia maior contato na vila. Xerife servia a todos com muita simpatia e atendeu Zurk com um largo sorriso, Não o esperava aqui meu amigo! Em que posso ajudá-lo?

Mantimentos Xerife, um pouco de vinho, uma forte refeição e tudo isso para duas pessoas, Zurk terminou a frase apontando para o convidado e instantaneamente atiçando a curiosidade do taverneiro e levantando as indagações rotineiras (Quem é? De onde vem?), respondidas com discrição pelo feiticeiro, não adiantou nada que imaginava ou especulava somente o que sabia sobre ele e como o havia encontrado. O prazo do pedido à chegada das encomendas foi o suficiente para as noticias sobre o rapaz rodarem o lugar, eram aproximadamente dez famílias que confraternizavam e agora imaginavam e conversavam sobre o jovem moço que havia chegado. Com o tempo, todos começaram a se aproximar e conversar com Zurk e o rapaz, mas o feiticeiro se esquivava das indagações e se mantinha observado e vigilante. Regis havia se misturado bem e conseguiu a simpatia de quase todos, muitosse ofereceram para ajudá-lo a resolver sua situação e o levar a sua cidade quando parasse de nevar, mas isso demoraria meses. Outros ofereceram hospitalidade, mas ele afirmava que gostaria de ficar com Zurk, que o salvou da neve, afirmava estar em dívida.

A noite passou rápido e o feiticeiro esperou alguma hesitação ou discrepância na história contada pelo moribundo, mas não havia falhas...


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