[CAP] Capítulo UM - O Lord do casebre (parte 1)

O único cômodo do casebre de pedra esperava a recuperação de seu senhor enquanto zelava por campos secos de outono. A pedra nua, uma grande rocha q servia de anteparo e de parede de fundos do casebre provia proteção, mas provocava um frio um tanto desconfortável. A única abertura do casebre, a porta de entrada, mal isolava a luz e deixava boa parte do vendo frio do anoitecer invadir o ambiente. A cama no canto era feita de madeira pesada, de cor com tonalidade escura, e tipo desconhecido. Seu colchão era bordado a couro, com uma lona de linho novo e palha seca e macia. O lençol leve e pardo estava amassado e deslocado e se misturava com um cobertor grosso de pano e peles, perfeito para os dias de inverno que não tardarão a chegar.O piso de pedra fria estava molhado de umidade e sombra e não mais testemunhava nada alem da cama e de uma cadeira encostada na parede direita da construção mal feita. Era ali que Zurk se escondia. Deixava seus materiais e apetrechos em uma mochila feita de couro de búfalo, com roupas e utensílios, e geralmente a guardava ao lado da cama. Nada mais ele carregava consigo. Seu capuz, escuro e misterioso, se repousava na cadeira e seu corpo estirava-se na cama pouco depois do anoitecer e descansava no sossego do casebre até o despontar do sol. Suas viagens e andanças eram freqüentes e o mundo era sua cama. Não se faz difícil a situação ondeo feiticeiro se abriga sob a árvore ou junto a uma gruta. Ou então em outro local que convém. Zurk busca, antes de tudo, o conhecimento e para isso não existe obstáculos ou desconfortos. É assim que ele vê o mundo mais de perto. É assim que ele sente o ar mais profundo nos pulmões. É assim que as idéias se alinham e a voz da experiência toma forma na mente do pensador. Contudo, o casebre fornece abrigo e aconchego. Algo que ele possa arriscar a chamar de lar. Desta vez, não houve tempo para pendurar o casaco, não houve mochila para colocar ao pé da cama ou vela para acender. Não houve tempo para travar a porta ou trocar as vestimentas. O feiticeiro Zurk estava ferido e sentia frio. Provavelmente perdera muito sangue e mal teve consciência do que realizou após o ataque. Imagina entre um lampejo e outro de firmeza de pensamento, entre tanta tontura e turbidez, que fora trazido ao lar pela Dama Severa, a bruxa Wee Jazz (a deusa da Magia).

Ali, Zurk adormeceu e por dias cuidou de seus ferimentos, com descanso, chás e água. Não havia visto quem ou o que o atacou. Não sabia o porquê, mas percebeu que a pancada que recebeu na cabeça fora dada com intenção de matá-lo. Era a primeira vez que isso acontecia, o que causou-lhe estranheza. Sua presença era requisitada por diversas pessoas e seus conselhos admirados em muitos lugares. Zurk sorria quando as crianças curiosas se aproximavam curiosas e corriam medrosas a cada gesto mais amplo que fazia. Alguns o respeitavam, outros ignoravam, e mais outros desconfiavam, mas ninguém o odiava ou temia seus atos ou andanças. O feiticeiro decidiu então se proteger. Passou a andar com seu sabre atira colo, uma arma elegante e esbelta, presa à cintura por um cinto azulado, em tom escuro, e uma bainha de couro negro, costurada com linha grossa e reforçada com metal leve e acinzentado. Seu cabo leve, com empunhadura firme, mostrava imponência exagerada para aquela lâmina, mas em seu todo, se exibia como uma boa e bem trabalhada arma.A semana se passou e o feiticeiro, agora recuperado, voltou a fazer suas andanças pela redondeza. A cidade de Hajasti se preparava para enfrentar o frio que viria dentro de semanas. Alguns druidas da região afirmavam que o inverno deste ano seria rigoroso e os clérigos de Pelor começavam a recolher providências para os menos afortunados. Administradores e cobradores de impostos se apressavam a cobrar seus dotes e produtores, fazendeiros, artesãos, homens livres e vassalos apressavam-se em providenciar os impostos. Tudo para não correr o risco de precisar cobrar ou pagar dívidas durante o inverno. Todas as famílias estavam mobilizadas para se preparar para os tempos difíceis que viriam e suas negociações começaram a ser tratadas de maneira mais intensa. É estranho pensar que as negociações sejam freqüentes em tempo de produção tão baixa, mas tem que ser lembrado que é nessa hora que os mantimentos e urgências devem ser tratados de maneira mais planejada. Não há de onde tirar alimento durante o frio, as peles e a carne sofrem com ausência de pasto e só o feno não é suficiente para nutrir a todas. Zurk andava pela cidade e cumprimentava todos os rostos conhecidos,tentando, em vão, adivinhar quem poderia ter acertado seu crânio com tamanho ódio. Não existiam motivos para a agressão, não aqui, não em Hajasti. Muitos rostos da cidade são vistos em pouco tempo, não haverá mais de 150 pessoas aqui, e todos conhecidos há anos. Não seria interessante procurar alguma autoridade, afirmariam que eu seria capaz de me cuidar e mesmo que não fosse não existiria maneira de descobrir quem foi. O inverno já tomava conta do tempo de todos e este problema do feiticeiro só traria mais empecilhos a todos. Era hora de se concentrar no que seria importante, conseguir mantimentos e conforto para enfrentar o frio que surgiria no porvir. Normalmente. Nesses períodos, Zurk recebia mantimentos como doações das pessoas. Por ser um homem de costumes simples, não necessitava de muitas provisões.Seus conselhos e assistências lhe garantiam agradecimentos suficientes para manter o estomago forrado e a pele aconchegada. Mesmo tendo contato com tantas pessoas, o feiticeiro se mantinha fechado e aguçava a curiosidade de muitos. Seu passado era desconhecido para as pessoas e seu jeito introspectivo confundia os menos carismáticos ou os mais céticos.

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Meu filho, saia daí, é perigoso ficar na ponta do mirante, não vê que se você cair vai se machucar tanto que antes de pensar em chegar ao fundo você irá estar morto? Querido, venha impor sua autoridade, não consigo tirar Zurk da cerca e eu não quero mais ver este menino brincando nesta beirada maldita.

-------------Inverno...-------------

A neve escalava até os joelhos e Hajasti morreu a quatro dias. Não se via viva alma nas ruas e poucas vezes claros inconstantes de vela nas frestas das janelas protegidas com couro e panos que bloqueavam os ventos. No casebre no canto da cidade, o feiticeiro providenciava uma sopa com poucos legumes e sem carne. Os ossos doíam e este se revelava como o inverno mais rigoroso que ele havia vivido. O vento empurrava aporta, mas sem sucesso, e ao meio de uivos e assovios do vento, Zurk teve a impressão de ter ouvido alguém do lado de fora, como que clamando por alguém. Se ele não estiver enganado, poderia ser um velho ou alguém muito debilitado pela ação do rigoroso frio.

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