Jogador iniciante... como enfrentar um desses?


- Ueeeeeeba, novo jogador na mesa!? Que bacana!
- É, o cara ta interessado, parece que ele curte mais ou menos as mesmas coisas que a gente...
- Além disso ele é gente fina, bem humorado, descontraído...
- E nunca jogou.
-Nunca viu as regras.
- Não sabe nem o que é RPG.
- Vai ter que começar do zero e todo mundo aqui já joga tem tempo...
- Iiiiiiiiiiiiiih, será que vai dar certo esse cara entrar na mesa?
- Ah, acho melhor não.

Todo mundo que gosta de games conhece RPG através dos jogos eletrônicos, filmes, revistas, mas nem sempre, na maioria das vezes, aliás, as pessoas não tem nem idéia do que é um RPG de mesa. As velhas e boas regras em livros, suplementos e encartes, fichas, dados e muita imaginação. O RPG de mesa não é tão divulgado quanto seus “co-irmãos” eletrônicos, mas muitos que entram em contato com ele ficam fascinados com suas dinâmicas narrativas e a emoção provocada pelos imprevistos e pela sorte que o destino reserva para os jogadores nos testes de dados.

Os sistemas de RPG não são tão divulgados no Brasil quanto são nos EUA, mas tem muitos adeptos no país todo. Geralmente, salvo engano, os jogadores tem uma constante mania de conversar sobre suas aventuras em locais públicos e não é raro observar a paixão e a empolgação de narrar as conquistas de seus personagens. Claro que algumas vezes, os jogadores se passam por loucos, “Aí ele sacou a adaga e colocou no pescoço do ladrão e disse assim ‘Ou devolve o dinheiro ou eu cortarei sua garganta’”, tudo bem para RPGistas, mas numa viagem de ônibus, ou na fila da lanchonete, pode ser meio estranho. Enfim, mesmo parecendo coisa de doido, esse tipo de conversa ainda funciona como propaganda para o jogo, chamando atenção de pessoas que também se atraem para o fantasioso, pela aventura e pela criatividade das histórias.

Além dessa “propaganda boca a boca”, quem joga acaba aprendendo a identificar as pessoas que possuem perfil para ser novo jogador ou mesmo um mestre e os convites acabam sendo inevitáveis.

Como apresentar o RPG para um leigo?

Primeiramente, deve-se analisar o perfil da pessoa, ver se ela tem interesse por atividades em grupo, conversar, se gosta de filmes, música, livros, contos, poesia, crônicas, artes, ou qualquer coisa que movimente as idéias, mexa com a imaginação e use e abusa da criatividade. Se seu candidato tem todas ou a maioria dessas características, você começa apresentando o que é o RPG.

RPG é um jogo de interpretação, onde um narrador usa um cenário e um enredo para os jogadores participarem como personagens nessa história narrada. O mestre deve deixar claro o ambiente, o cenário, os personagens guiados por ele e a problemática da história e os jogadores deverão utilizar os personagens para interagir com todos os elementos da narrativa, e tudo isso deverá ter como base um conjunto de regras. O novato deve ter esses conceitos bem gravados na mente.

Os termos deverão ser apresentados e definidos, se possível com exemplos. Contar algumas passagens de narrativas, dar exemplos práticos, fazer um role-play com ele, sem fichas nem dados nem nada, só pra ele ter um gostinho do que é interpretar.

Se ele ainda estiver com dúvidas ou não conseguir visualizar, antes dele iniciar em um jogo, leve-o para observar um jogo.

Como explicar as regras para um leigo?

Basicamente existem duas maneiras:
1 – Mandando o novato ler os livros e alguém ir explicando para ele., ou;
2 – Apresentar o sistema em uma espécie de aula prática (minha preferida).

O mestre, ou um jogador experiente, deverá ir com calma e muito cuidado para o jogador novato conseguir absorver o que se está dizendo a ele [e com certeza ele não vai entender quase nada mesmo de cara]. O novato vai conhecer os dados, as fichas, os livros, a função do mestre, os conceitos de jogada, turno, rodada, o que é dano, o que é teste, o que é acerto crítico, o que é sucesso, o que seria nível, e por aí vai.

O tutor escolhido para acompanhar o jogador novato é muito importante para o sucesso dessas aulas e tudo isso poderá garantir o divertimento do jogador, mesmo em sua primeira aventura. Se preciso, vale até experimentar simulações, exemplos e encenações.

A partir de então, já tendo contato com esses detalhes gerais, deve-se partir para os conceitos de raça e classe. Neste caso, o tutor poderá auxiliar o jogador, relacionando o perfil do jogador a uma classe, raça e tendência, deixando para ele o entendimento de suas possibilidades, ou, o que é “Um anão guerreiro de Primeiro nível”. A explicação do cenário e da história fica a cargo do mestre, e posteriormente isso será a introdução definitiva do jogador novato na mesa.

Para finalizar, montagem de ficha, explicando ao novato o que cada pedacinho da ficha faz, enquanto simultaneamente se preenche os valores, calcula-se os bônus e verifica-se os atributos. Um conselho é fazer isso com o livro em mãos, para mostrar ao jogador o que se consulta, como se consulta, onde se consulta e o que significa o item trabalhado. Mas, para início, o jogador vai precisar saber sobre: Atributos, Pontos de Vida, CA, Bônus de Ataque, Dano, Nível e Testes de Resistência. O resto poderá vir com o decorrer do jogo.

Como tratar um novato na mesa?

Bom, depois de tudo explicado o novato estará morrendo de vontade de colocar em prática tudo que ele ouviu e dar vida ao personagem que ele idealizou. Então, o calouro vai se tornar um jogador de RPG.

Por não entender ainda as regras, não conseguir visualizar a narrativa e ainda não imaginar como poderá interagir com o jogo, é aconselhável ao mestre e aos jogadores pegarem leve com o iniciante, não amenizando e facilitando para seu personagem, mas sendo mais detalhistas com a história, descrevendo melhor suas ações e auxiliando ao jogador encontrar as características exigidas para cada ação que ele desempenha em jogo.

Criar um ambiente amigável sempre ajuda. Deve-se esquecer qualquer característica discriminante e o grupo deve trabalhar para integrar ao máximo o novato ao grupo, deixando-o confortável e confiante para agir. Ter paciência pela demora das reações e quando ele não conseguir localizar os atributos exigidos para os testes.

Eu aconselho sempre iniciar uma aventura para novatos a partir do primeiro nível e aproveitar para tranqüilizar o iniciante comparando sua situação ao personagem. Se ele jogar com um guerreiro, ou mago, sua falta de experiência como jogador será a mesma do personagem quanto a suas habilidades. “Eu não sei o que fazer, não sei que magia soltar”, “Não se preocupa, o personagem também está se aventurando pela primeira vez, você vai se familiarizar e logo, logo, estará com suas técnicas e táticas já desenvolvidas”.

O que exigir de um novato na mesa?

São coisas básicas, mas aqui eu vou colocar o que eu exijo nas minhas mesas.

1 – Interesse. O jogador tem que começar para continuar, jogadores faltosos e que não se preocupam com honrar os horários e os dias de jogo podem bagunçar uma mesa.

2 – Trote. Nas minhas mesas o iniciante se encarrega sozinho do lanche por pelo menos um dia. Isso deixa a coisa mais séria, cria um pouco de senso de responsabilidade, etc, etc, e garante também o lanche da sessão [hehehe].

3 – Ser legalmente responsável. Ou seja, ter 18 anos ou mais. Não quero me responsabilizar por ninguém “de menor” que esteja jogando comigo.

4 – Sobriedade. Não permito bebidas alcoólicas, entorpecentes, anestésicos, energéticos, embriagantes, enfim, nenhum tipo de produto que possa influenciar no estado físico e psicológico dos jogadores. O jogo é para divertimento, descontração, quer beber? Vá a um bar! Quer usar psicotrópicos? Vai pra outro lugar...

5 – Respeito. Um jogador deve respeitar aos outros jogadores e ao mestre.

6 – Obediência. O mestre manda e ponto final, pelo menos dentro do jogo, então não adianta espernear, se o mestre disse está dito.

7 – Tolerância. Muitas vezes acontecem coisas no jogo que não satisfazem aos jogadores, mas isso é passageiro e são conseqüências da história [um mestre não deve sacanear os jogadores].

8 – Pontualidade. Todo mundo tem problemas e está a mercê de atrasos, mas evitá-los ajuda à fluência do jogo.

9 – Paciência. RPG de mesa é diferente do RPG de vídeo-game. Muitas vezes não é possível retratar seu personagem como nos jogos e as regras podem atrasar um pouquinho na conclusão do personagem da maneira que o jogador o imaginou. Mas quem joga ganha XP e quem ganha XP ganha níveis, ganhando níveis ganha-se vantagens e as vantagens moldam os personagens.

10 – Coleguismo. Antes de tudo, o RPG foi feito para diversão e interação.

Comentários

Postagens mais visitadas